segunda-feira, 24 de outubro de 2016

#1

Não entendo bem o porquê de estar a criar uma espécia de diário on-line. Mas há coisas que eu, de facto, quero deixar registadas. E uma delas são as pipocas.
Temos a constante mania de passar as horas das nossas vidas a reparar em meticulosos pormenores alheios. Em acessórios supérfluos, em detalhes que não merecem a nossa atenção. Perdemos tanto tempo nessas minúcias que acabamos por nos esquecer que existem coisas tão bonitas, que nos enchem o coração. Talvez tenha sido por um desses episódios bonitos da minha vida que achei necessário criar esta plataforma.
Na última sexta-feira, que poderia ser uma outra sexta-feira qualquer como todas as outras em que regressava de fim de semana a casa, sentei-me no banco da rodoviária. O autocarro que deveria embarcar ainda não tinha chegado. No meio te tanta azáfama, lá encontrei eu um lugar para me sentar. Bem apertadinho, mas lá eu coube. Porque uma simpática senhora, idosa de 80 anos, me deixou sentar. De entre dezenas pessoas sentadas, foi a única que se ajeitou para me dar um lugarzinho sentado.
Eu tenho um grande defeito: passo a vida a cheirar as coisas. Associo todas as minhas memórias a um cheiro. Entro num sitio e reconheço-o pelo cheiro. E quando conheço alguém, facilmente lhe associo um cheiro. Esta senhora não fora excepção. Eu, com esta minha mania absurda, facilmente me apercebi que a senhora não era detentora do melhor cheiro que respirei na minha vida. Notava-se que não era lisboeta- decididamente. Com poucos dentes, tentou falar comigo. Sorri-lhe, apenas; uma forma que encontrei de me escapar a responder ao seu discurso que -verdade seja-não entendi. A senhora continuou a abordar-me e senti-me na obrigação de a ter de compreender. Seria uma falta de respeito continuar a sorrir-lhe e a fingir que ouvia tudo o que dizia. Senti que a estaria a desprezar. Entre palavras, após um desmedido esforço, entendi que ia para a Sertã e que ainda faltava uma hora para o seu autocarro chegar. E tinha fome! Quando disse isto, levantou-se -coitada, percebi que tinha dificuldades em mover-se-mas foi. E voltou. Com um saco de pipocas bem quentes. E se ela estava feliz e contente! "Tira, tira uma mão cheia" Disse-me ela. E eu, gulosa, tirei. Senti que mesmo que não gostasse, teria de tirar. Penso que me iria levar a mal se recusasse. Passado um breve momento, voltou-me a oferecer. Sem me conhecer, disse-me que era bonita e simpática e que devia de a ajudar a comer as pipocas.
O meu autocarro chegou e despedi-me da senhora. Desejou-me toda a saúde do mundo e para ser feliz.
Ainda dizem que não há coisas bonitas neste mundo. Até as pipocas têm beleza :-)

Nenhum comentário:

Postar um comentário